Questionários

Como prometido, aqui fica a análise dos questionários realizados na área de Faro.

Caso surja alguma dúvida, não hesite e questione.

Mito

"Cantar ajuda a melhorar a gaguez"

Segundo os especialistas, em geral, pode ocorrer a supressão completa ou parcial durante o canto. A explicação para isso é o uso de diferentes áreas cerebrais para falar e cantar. Enquanto a fala se desenvolve a partir do hemisfério esquerdo, o canto é elaborado em diversas áreas cerebrais, mas especialmente no hemisfério direito. Além disso, quem gagueja tem o ritmo da fala alterado. Ao cantar, a pessoa estabelece ritmo pré determinado e, assim, o distúrbio não se manifesta. Outra explicação para isso é que o canto é apenas reproduzido e não processado como a fala.

Usar o telefone

Muitas pessoas, mesmo sem ter gaguez, têm dificuldades em usar o telefone.

Usar o telefone pode ser fonte de ansiedade para muitos e cada pessoa aprende a lidar com isso à sua maneira.

Se, pelo facto de ter gaguez, o telefone representa um problema especial , deixamos aqui dicas que poderão ser úteis.

• A prática pode ajudá-lo a se sentir mais tranquilo para usar o telefone.
• Enfrente o seu medo do telefone. Reflicta sobre o que o faz sentir medo e o que pode fazer sobre isso.
• Procure estar consciente das situações em que normalmente evita falar ao telefone e gradualmente enfrente esse medo.
• Escolha usar o telefone em vez de recorrer a mensagens escritas.
• Torne-se a pessoa que atende ao telefone em sua casa.
• Assuma abertamente que você tem gaguez. Isto pode ser muito difícil, principalmente se tiver evitado falar sobre o assunto durante toda a vida.
• Fale mais sobre seu problema. Falar sobre a gaguez reduz a ansiedade e o medo de gaguejar.
• Ao telefonar para um conhecido, lembre-se que ele já sabe que você gagueja.
• Observe pessoas que não gaguejam a falar ao telefone. Preste atenção à sua falta de fluência e às suas hesitações.
• Finalmente: pratique. Não deixe que o telefone domine sua vida. É muito melhor usar o telefone e gaguejar do que evitar usá-lo.

Modificação da Gaguez (van ripper)

Uma boa avaliação (diagnóstico) é essencial, pois isso determina qual o melhor tratamento.
VAN RIPPER prôpos 4 fases:

Identificação–
Objectivos:
O terapeuta e o paciente identificam os comportamento observáveis e não observáveis;
O utente deverá ser capaz de imitar a sua própria gaguez.

Dessensibilização- 
Objectivos:
Eliminar sentimentos negativos;
Modificar atitudes;
O utente deverá ficar na gaguez sem lutar contra ela.

Modificação-Objectivos:
"Gaguejar de uma forma mais fluente";
Eliminar a tensão associada;
Dependem da gravidade da gaguez;
A eliminação total da disfluência poderá ser um objectivo irrealista. 

Estabilização-
Objectivos:
Role playing;
Situações reais.

Mito

                     "A criança começa a gaguejar porque os pais lhe exigem demais"

 Os pais de pessoas que gaguejam são alvos de diversos estereótipos sociais. Seriam pais dominadores, superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimentos de rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja. Entretanto, os avanços científicos já demonstraram que os pais não são os responsáveis pela gaguez dos seus filhos. O ambiente familiar também desempenha um papel importante, mas não tanto no surgimento mas sim na recuperação. Por isso, é extremamente importante que os pais adotem atitudes que promovam a fluência.

O que um gago nos pode ensinar?

Como todos sabemos a gaguez encontra-se associada a falta de inteligência, a falta de capacidade ou até a uma deficiência.No entanto os gagos  também nos mostram várias perspectivas...

1. A reinvenção acontece todos os dias. O gago todos os dias procura conhecer-se melhor e chegar a um ponto que considere aceitável. O problema surge, mesmo quando atinge esse estado aparentemente aceitável, por obra de uma força superior qualquer, quando tudo se perde e entra novamente num estado que considera inaceitável. Isto não o lembra a si noutras áreas da sua vida? Precisamente, o que você precisa é de uma constante reinvenção, uma constante procura pelo que lhe faz sentir bem e sentir positivo.
2. Se não fizer por si, quem o fará? Conhecendo a "limitação", o gago evita participar em actividades como por exemplo, relacionadas com expor opiniões em publico, ler algo para algo para alguém  Em pequenas coisas do dia a dia como o convívio com amigos em cafés sugere ao gago que seja o amigo a pedir, telefonemas para esclarecer assuntos, isto para o gago é uma dificuldade. Mais uma vez, não revê certas acções da sua vida neste espelho? E quando estamos perante tarefas que só nós podemos encarar? E aquela apresentação que o gago fará no trabalho na próxima semana? É verdade, mesmo conhecendo a sua limitação enfrenta-a e melhor, põe todas as forças e faz o máximo esforço possível para dar o seu melhor! Nunca se esqueça que ele não se sente bem com a sua condição e por isso irá dar tudo por tudo para que corra bem. Faça o mesmo no seu dia-a-dia e coisas fantásticas irão nascer.
3. Conheça as suas limitações e dê o máximo nas suas melhores capacidades. É essencial conhecer as suas limitações. Ao conhecermos as limitações pode tentar melhora-las e talvez passarem a ser uma das capacidades.É isto que um gago faz todos os dias. Vive completamente ciente da sua limitação mas isso não o impede de tentar melhorar e não o impede de colocar todos os esforços nas suas melhores capacidades. 
4. Seja honesto e nunca fuja de si mesmo. Para o gago isto é um importante ponto, pois passará a viver bem consigo próprio. Isto aplica-se a todas a vários etapas da vida, do trabalho, das relações sociais....  Se algo correr mal, deve ter a consciência tranquila, ou seja saber que o fez está bem de acordo com os seus princípios.
   
   

Gaguez e o desempenho escolar

A gaguez não afecta o desempenho intelectual, no entanto há uma tendência para afectar a criança no desempenho escolar quando os professores desconhecem a melhor forma de lidar com a dificuldade. Algumas crianças tendem a retrair-se quando começam a ter consciência da gaguez levando a um medo de falar ( evitam fazer perguntas, não gostam de ler em voz alto).

Deixamos aqui uma redacção de um jornal informativo. ( Para melhor visualização clique em cima da imagem)

Jogo sobre o bullying

Mostramos-lhe então um vídeo sobre um jogo de prevenção de bullying, este tema já foi falado no nosso blog mas temos consciência de que este é um tema ainda com muitos tabus e queremos acima de tudo consciencializá-lo, seja para estar mais atento ao seu filho ou às crianças que o rodeiam.
Este jogo foi criado com o objectivo de alertar não só quem sofre de bullying mas também quem observa ou quem pratica. Sabemos que, infelizmente, as crianças conseguem ser um pouco maldosas na sua inocência e que qualquer assunto serve para elas discriminarem outra criança portanto fique atento ao que o rodeia!

Intervenção para crianças - Programa Lidcombe

O programa lidcombe é um tratamento comportamental para crianças que começam a apresentar difluências. Foi desenvolvido pelo Centro Australiano de Investigação da Gaguez na Universidade de Sydney.

O programa é administrado pelos pais durante a vida quotidiana da criança. Os pais aprendem a realizar o tratamento com um Terapeuta da Fala. O terapeuta ensina os pais com a demonstração de diversas ferramentas que se utilizam no tratamento.

Esta informação é essencial para os pais, porque é o Terapeuta da Fala quem tem a responsabilidade de se assegurar que este tratamento se realiza adequadamente, sendo uma experiencia positiva para a criança e para a família.

Este tratamento é directo, isto significa que se trata de forma directa, a maneira em que os pais fazem os comentários sobre a fala do filho. Esta é a base, comentários muito positivos, principalmente quando a criança fala com fluência e só as vezes, quando a criança faz repetições e bloqueios.

Os pais aprendem a dar uma pontuação de gaguez, que começa com a pontuação de 10, onde 10 é “muito grave” e 0 é “não gagueja”.

Depois o Terapeuta da Fala e os pais examinam as pontuações para poderem ver que resultado está tendo fora da Terapia da Fala.

Na administração do Programa Lidcombe, a medição da gaguez apresenta grande importância, de facto, não se pode fazer o tratamento sem ela.

            Esta medição utiliza-se:

• Para verificar se a gaguez da criança está melhorando e se contrário realizar os ajustes necessários para os casos que não haja sinais de melhoria.
• Para determinar com precisão quando a criança completou os critérios para a recuperação.
• Para comprovar que o discurso da criança segue esses critérios a longo prazo.

 O Programa Lidcombe processa-se em duas fases. Durante a primeira fase, espera-se que a criança deverá reduzir a gaguez e durante a etapa 2, o ganho anterior é mantido por um período alargado de tempo.

       O mantimento do programa é essencial porque a gaguez pode reaparecer depois de finalizar tratamento aparentemente com êxito. Todas a crianças e famílias são diferentes.

José Saramago - Depoimento sobre a gaguez

José Saramago, fala sobre a dificuldade de conviver com a gaguez em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:

 "O meu problema foi, e continua a ser, a gaguez. Aqueles que gozam da sorte de uma palavra solta, de uma frase fluída, não podem imaginar o sofrimento dos outros, esses que no mesmo instante em que abrem a boca para falar já sabem que irão ser objecto da estranheza ou, pior ainda, do riso do interlocutor."

Entrevista de José Saramago

Mito

"Se a criança começou a gaguejar, é só esperar que passa."

 

 

  - Boa parte das crianças que começa a gaguejar melhora espontaneamente pouco tempo após o início dos primeiros sintomas de gaguez. Entretanto, os pais não têm como saber de antemão qual a probabilidade de ocorrer melhoria espontânea com seu filho. Por isso, é fundamental realizar uma avaliação com um Terapeuta da Fala especializado para saber se é mais alta a chance de a gaguez melhorar espontaneamente ou se é mais alta a chance de a gaguez persistir. Uma intervenção precoce adequada é o melhor caminho para diminuir o impacto negativo da gaguez na vida da criança e dos pais.

Como terminar com medos?

Existem inúmeros medos e inúmeras formas de terminar com eles, mas o medo mais frequente nas crianças que gaguejam é mesmo o medo de gaguejar enquanto falam, por isso apresentamos aqui uma forma de terminar com os medos o jogo do "tiro ao alvo" ! Este jogo consiste em pegar num tabuleiro normal deste jogo e ir aumentando o grau de medo consoante a área, por exemplo na área mais exterior :" tenho medo de cães" e na área mais interior "tenho medo de gaguejar" assim a criança e quem a acompanha vão destruindo os medos à medida que conseguem acertar neles com as setas.

Lembre-se: a psicologia tem uma grande importância principalmente quando lidamos com crianças!

Gaguez é sinal de sofrimento?

" O principal objectivo na gaguez,enquanto Terapeuta, é a diminuição do sofrimento.O sofrimento do gago é uma coisa que a maior parte das pessoas não imagina. "

(Pedro Aires de Sousa)

O gago por vezes não consegue expressar o seu pensamento, sofrendo e para não mostrar que é gago opta muitas vezes evitar falar. Esta atitude remete-o para um sentimento de frustração  angústia e muita tristeza, pois ele tinha uma mensagem que era importante para ele, que poderia ser benéfica para o outro, mas que ele não conseguiu expressar.

Pedir um pastel de bacalhau em vez de um pastel de nata, pedir uma cerveja em vez de uma café são situações frequentes no dia-a-dia de um gago. O gago fá-lo para não mostrar que é gago, fazendo o possível para não gaguejar. A repetição destas situações fazem com que o gago se auto-desvalorize e se sinta irritado,sofrendo. 

O rolar destes sentimentos faz com que o gago desista de alguns objectivos pessoais, como por exemplo frequentar um curso na universidade, exercer algumas profissões, participar em palestras, entre outros. Todas estas situações provocam no gago um sentimento de tristeza e sofrimento.

Mito

" A gaguez está mais presente em sociedades que estimulam a competição e que cobram melhor desempenho do indivíduo. "

A gaguez é um distúrbio que parece afectar igualmente todas as classes sociais, etnias, sociedades e culturas - desde comunidades indígenas da América do Sul ou do Norte, até executivos de Tóquio e Wall Street.

Entrevista à Terapeuta Mónica Gaiolas

Deixa-mos aqui uma entrevista da revista Visão à Terapeuta da Fala Mónica Gaiolas, em que esta pretende acabar com os estigma social criado à volta das pessoas com gaguez.

Mito

“Obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula faz com que ela perca a timidez e o medo de falar”

A timidez e o medo não causam gaguez. Na verdade, a timidez e o medo de falar podem ser consequências da gaguez : a criança pode ter medo de falar não porque acha que pode gaguejar, mas porque sabe que vai gaguejar e que não conseguirá impedir tal acontecimento. Por outro lado, o medo pode agravar a gaguez. Assim, obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula só vai contribuir para piorar o problema.

Gaguez... uma identidade?

No passado dia 15 de Novembro tivemos a presença de um colega de outro curso na nossa aula de fluência, este jovem de 21 anos frequentou terapia da fala entre os 6 e os 8 anos e depois de novo aos 15 anos o motivo eram perturbações da fluência (gaguez) mas hoje em dia e graças à intervenção ele fala fluentemente pois consegue contornar o seu problema.
A presença dele permitiu-nos fazer algumas perguntas para compreendermos melhor esta problemática e uma das questões deixou-nos pensativas, a questão era a seguinte: "Consideras-te gago?" A resposta dele foi breve e rápida :"Não!" aí nós percebemos um grande problema da sociedade que é a necessidade de rotular toda a gente, nós precisamos de tratar cada pessoa pelo nome das suas características: "É o Zé Magro, é o Zé gordo, é a loira, é a ruiva lá do prédio"  mas a realidade é que muitas vezes estes apelidos podem prejudicar a pessoa em questão, neste caso este rapaz durante a adolescência tinham-no apelidado de "o aspirador" devido à sua forma de falar.
As pessoas com gaguez não são gagas, têm apenas gaguez, tal como têm olhos azuis, verdes ou são altas ou baixas.
O facto de identificarem as crianças como gagas pode prejudicar o seu desenvolvimento pois elas podem reflectir demasiado nisso levando-as a prejudicar a sua fala, a psicologia tem grande impacto nunca se esqueça!

Concluímos então que a gaguez não é uma identidade, é uma singularidade. Não faça da gaguez um problema da sociedade, abrace-a como individualidade e lembre: "cada um é como cada qual!"

A capacidade de um gago

Os gagos possuem uma grande aptidão para falar, reconhecem palavras e/ou letras em que têm mais tendência para gaguejar tentando evitar essas palavras, usando sinónimos e introduzindo outros fonemas para facilitar a produção do discurso. Se nem sempre é fácil exprimirmos com exactidão o que desejamos, imaginamos o esforço que o gago tem de fazer para dizer aquilo que quer. O esforço despendido não é compensado e muitos gagos sentem-se ridículos. Este sentimento deve-se ao facto de o gago desejar e pensar que o seu dever é enfrentar a gaguez sem rodeios e dominá-la. 

O "gago" e as relações sociais

    Testemunho de manifestações de gaguez que ocorrem em diferentes  relações e em vários momentos da historia de vida da pessoa.

Pergunta: Na escola como é ler ou apresentar trabalhos?

Resposta: Para mim é a pior parte... é horrível... é muito mau mesmo... ter que me expor assim... sofro muito.

Pergunta: E com os seus amigos na escola?

Resposta A: Eu fico mais... fico mais solto... acho que é quando jogo futebol com os meus amigos... fico muito mais solto... só em algumas palavras é que começo a gaguejar.

Resposta B: ... leitura, meu Deus, quando tinha que ler... na fila... eu queimava por dentro quando era pequeno, quando chegava à minha minha vez eu morria de medo. 

Pergunta: E com pessoas da sua idade?

Resposta: Eu converso... bastante... eu solto-me muito.

    

    Ao ver diferentes tipos de gaguez ocorrendo em diferentes relações sociais, ve-se que a gaguez é marcada pelas experiências, pelas vivências da pessoa e pelo que lhe é significativo.

    As diferentes relações sociais interferem na produção da fala, ou mais especificamente, na sua gaguez, pois o modo de se relacionarem varia de acordo com os seus interlocutores, papeis que assumem e situações que vivenciam. Pino (2005), diz que no complexo sistema das relações sociais, as posições e os papeis associados a essas posições vão definir a função social dos sujeitos. Ou seja, como se situam uns em relação a outros, dentro de uma determinada formação social e quais as formas de conduta, tais como, de pensar, falar, agir, sentir, etc., que são esperadas delas em relação a essa posição.

    As pessoas gagas apresenta vários modos de manifestar a gaguez, com maior ou menor intensidade, dependendo das diferentes relações sociais, dos seus ouvintes e da relação que com eles estabelece